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Por Mariana Campos Limongi, Flávio Ricardo Manzi e José Benedito Fonseca Limongi
A articulação temporomandibular (ATM) é frequentemente estudada no campo da Fonoaudiologia devido à sua importância pelos movimentos mandibulares e pela eficiência das funções estomatognáticas. As primeiras descrições anatômicas da ATM foram realizadas por Leonardo da Vinci e Andréas Vesalius nos séculos XV e XVI. Uma das definições mais completas desta articulação é de Madeira (2004), o qual definiu como uma articulação sinovial, bilateral, interdependente, com movimentos próprios, porém simultâneos, sendo, portanto, a mais complexa do corpo humano. É também a única do esqueleto cefálico classificada como triaxial, ou seja, é capaz de realizar movimentos em torno de três eixos.
O desenvolvimento embrionário dessa região ocorre na 8ª semana de vida intrauterina, onde já se observam duas áreas amplamente separadas por células mesenquimais na região da cabeça da mandíbula e da cavidade articular. Durante o desenvolvimento podem ocorrer alterações morfológicas e funcionais, como a hipoplasia e hiperplasia condilar, alterações pós-radioterapia, defeitos associados a doenças ou síndromes específicas (síndrome do primeiro arco branquial, disostose mandíbulo facial), côndilo bífido, anquilose, entre outros.
O côndilo bífido é descrito na literatura como uma alteração estrutural de etiologia desconhecida e patologia incerta. Na maioria dos casos é assintomático, sendo descoberto por meio de exames de imagens com objetivos rotineiros. É relatado que a presença do côndilo bífido não é determinada pela idade ou sexo, mas alguns estudos mostram ocorrência entre as idades de 3 a 67 anos, tendo uma média de 35 anos de idade. Esta condição é uma entidade incomum com uma etiologia controversa. Pode ser desenvolvida ou adquirida e raramente pode estar associada à anquilose da articulação temporomandibular. Embora esse tipo de mudança morfológica esteja geralmente associada ao trauma, condições como o uso de drogas teratogênicas, herança genética, infecção e exposição à radiação também podem causar o desenvolvimento dessa anomalia.
A anquilose da ATM pode ser definida como a fusão entre a cabeça da mandíbula e a cavidade glenoide, reduzindo ou restringindo os movimentos articulares, limitando a mastigação e induzindo a problemas estéticos, nutricionais, psicológicos e sociais. A fusão pode ser fibrosa ou óssea em sua natureza. Esta condição pode ocorrer em qualquer idade, porém é mais frequente em crianças com menos de 10 anos. As suas causas mais frequentes são: lesões traumáticas (fraturas de côndilo e trauma durante o parto), infecções nas vizinhanças da ATM (otite média aguda – OMA; mastoidite; petrosite; fatores intracranianos; e infecções no músculo temporal) e infecções sistêmicas.
A proximidade entre o canal auditivo externo e a ATM facilita a disseminação de infecção, estando a cápsula articular presa à fissura escamo-timpânica. A deiscência congênita do canal cartilaginoso e da fissura escamo-timpânica ou a persistência do forame de Huschke podem contribuir para a difusão de uma infecção para a articulação. A fusão do anel timpânico é inicialmente incompleta na sua porção anterior e inferior, resultando em uma abertura (forame de Huschke) presente até o quarto ou quinto ano de vida do indivíduo.
Essa fusão separa o canal auditivo externo superiormente e o forame de Huschke inferiormente, ou seja, ele representa a não ossificação da porção ântero-inferior da placa timpânica, que é de origem intramembranosa. Porém, esse forame pode persistir por toda a vida do indivíduo. Quando isso ocorre, a região retrodiscal da articulação temporomandibular e a porção medial do canal auditivo externo estão separadas apenas por tecido mole, o que facilitaria a disseminação de processos infecciosos da região.
O fator etiológico mais comum da anquilose da ATM e côndilo bífido está associado ao trauma. A anquilose da ATM pós-traumática pode ter vários
fatores causais, dentre os quais o deslocamento do disco pode ser um dos mais prevalentes. Esse deslocamento causa a ausência de uma barreira, que normalmente impede o estabelecimento de uma ponte óssea provocada pelas respostas pós-traumáticas. Enquanto o local de fratura do côndilo mandibular e sua relação com a inserção do músculo pterigóideo lateral são fatores que determinam o desenvolvimento futuro do côndilo bífido.
Diante do exposto, o presente trabalho tem como objetivo destacar a importância do diagnóstico precoce das alterações da articulação temporomandibular, apresentar um caso de côndilo bífido sem histórico de trauma, porém com otites recorrentes durante a infância, e um caso de anquilose da ATM em uma criança de 12 anos de idade que teve histórico de trauma. Assim, ressalta-se a importância do conhecimento dos profissionais da área para um diagnóstico precoce a fim de evitar o desenvolvimento de assimetrias faciais, restabelecendo função, estética e o estado psicológico do paciente.
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